Com a chegada das festas de fim de ano, os prontos-socorros registram um aumento consistente de pessoas que procuram atendimento após sentir batimentos acelerados, irregulares, sensação de “coração tremendo”, falta de ar ou tontura logo depois de episódios de consumo excessivo de álcool.
Esse fenômeno, descrito inicialmente em estudos realizados no Reino Unido e observados também em outros países, ficou conhecido como “síndrome do coração de feriado”, ou holiday heart syndrome.
O nome não é por acaso. A condição surge justamente em períodos marcados por confraternizações, férias, aumento do consumo alcoólico e maior descontrole na rotina.
Pessoas sem histórico de doença cardíaca podem, após ingerir grandes quantidades de álcool em curto período de tempo, apresentar arritmias atriais, especialmente fibrilação atrial, que costumam se manifestar poucas horas após as celebrações.
Como o álcool desencadeia a arritmia
O álcool afeta o organismo de forma ampla e direta. Ele interfere no sistema nervoso autônomo, que controla os batimentos cardíacos, favorece desidratação e induz processos inflamatórios. Essa combinação cria um ambiente que desorganiza o funcionamento elétrico do coração, facilitando o surgimento de ritmos irregulares.
Quando o ritmo atrial é afetado, o indivíduo pode perceber o coração batendo rápido, “voando”, saltando batidas ou vibrando. Em outras situações, o ritmo irregular não causa sintomas óbvios e só é descoberto quando a pessoa busca atendimento por mal-estar geral, fraqueza, dor no peito ou sensação de desmaio iminente.
A avaliação médica geralmente inclui eletrocardiograma, que registra o ritmo cardíaco, e exames de sangue para investigar distúrbios eletrolíticos, inflamação, coagulação e alterações no fígado ou nos rins; órgãos frequentemente sobrecarregados pelo consumo excessivo de álcool.
Quando o problema passa a ser mais sério
A maioria dos casos de “coração de feriado” é autolimitada: melhora em poucas horas ou dias, principalmente quando a pessoa interrompe o consumo de álcool, hidrata-se e segue orientações médicas. Porém, há situações em que o quadro evolui para fibrilação atrial persistente, uma arritmia mais complexa.
Quando isso acontece, podem ser necessários medicamentos para restaurar o ritmo, procedimentos de cardioversão elétrica e, em alguns casos, ablação cardíaca. Sem tratamento adequado, a fibrilação atrial aumenta o risco de formação de coágulos no coração, que podem migrar para o cérebro e causar um AVC.

Por isso, sentir palpitações importantes, falta de ar, dor no peito, tontura ou desmaio deve ser motivo para procurar atendimento imediatamente.
Fim de ano: o ambiente perfeito para desencadear o quadro
O consumo súbito de grandes quantidades de álcool é o principal gatilho, mas não o único. As festas de fim de ano combinam vários fatores que sobrecarregam o organismo: noites mal dormidas, alimentação pesada, estresse emocional, viagens longas, redução do exercício físico e desidratação. Todos esses elementos aumentam a vulnerabilidade do sistema cardiovascular.
Em adultos jovens, o quadro costuma se resolver com mais facilidade. Já pessoas acima de 40 anos, hipertensas, diabéticas, com histórico familiar de arritmia ou que já tiveram episódios prévios devem redobrar a atenção.
Como reduzir o risco durante as festas
A prevenção é simples, mas exige consciência. Evitar episódios de binge drinking (consumo abusivo de álcool em poucas horas) é a principal medida para impedir a síndrome. Intercalar bebidas alcoólicas com água ajuda a reduzir a desidratação e o impacto metabólico. Também é recomendável descansar adequadamente, manter refeições equilibradas e controlar o estresse típico do período.
Embora as recomendações gerais venham de estudos realizados em outros países, os mecanismos fisiológicos são universais e se aplicam a qualquer população. Por isso, os cuidados devem ser adotados independentemente do país ou da cultura.
Um alerta para um período que deveria ser de celebração
A “síndrome do coração de feriado” não é uma doença nova, mas ganha destaque sempre que o fim de ano se aproxima. Os sintomas são assustadores e, em alguns casos, colocam a vida em risco. Saber reconhecer os sinais e agir rapidamente pode evitar complicações graves.
Celebrar faz parte da vida, mas ignorar os limites do corpo pode transformar um momento de alegria em uma emergência médica. Dobrar os cuidados é a melhor forma de garantir que o coração acompanhe as festas sem sustos, agora e nos próximos anos.













