Estudo revela que 99% dos casos de infarto e AVC tinham fatores de risco prévios

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Um estudo global conduzido por pesquisadores da Northwestern Medicine, em parceria com a Yonsei University, revelou um dado alarmante: mais de 99% das pessoas que sofreram infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou insuficiência cardíaca apresentavam pelo menos um fator de risco elevado antes do evento.

A pesquisa reuniu dados de milhões de prontuários médicos de diferentes países e analisou a incidência de fatores de risco clássicos, como hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Mesmo entre pessoas classificadas como de “baixo risco”, os cientistas identificaram irregularidades em parâmetros laboratoriais e hemodinâmicos, o que evidencia a necessidade de estratégias preventivas mais amplas.

Um retrato preocupante da prevenção cardiovascular

Segundo o estudo, coordenado pelo professor Donald M. Lloyd-Jones, chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Northwestern University Feinberg School of Medicine, há uma clara desconexão entre o conhecimento médico sobre prevenção e sua aplicação prática na população.

Nos Estados Unidos, menos de 10% dos adultos mantêm todos os índices cardiovasculares dentro das faixas ideais. Essa tendência se repete em países emergentes, incluindo o Brasil, onde o controle de pressão arterial e glicemia ainda é insuficiente em grande parte da população.

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Fonte: Reprodução

Os pesquisadores destacam que a maioria dos eventos cardiovasculares ocorre em indivíduos sem acompanhamento médico regular, o que reforça a importância de políticas públicas voltadas à atenção primária. A publicação alerta ainda que o custo das doenças cardiovasculares, tanto para os sistemas de saúde quanto para as famílias, continua crescendo em ritmo superior ao da economia global.

Prevenção deve começar antes dos sintomas

De acordo com a American Heart Association (AHA), cerca de 80% dos eventos cardiovasculares poderiam ser evitados com controle adequado dos fatores de risco e mudanças sustentáveis no estilo de vida. Alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, cessação do tabagismo e acompanhamento médico periódico são as principais medidas recomendadas.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) reforça a importância de ferramentas de estratificação, como o Score de Risco Global e o recente PREVENT Calculator, lançado pela própria AHA em 2023. Essas calculadoras ajudam médicos e pacientes a estimar o risco de eventos cardiovasculares em prazos de 10 a 30 anos, considerando variáveis que vão além das tradicionais, como histórico familiar, condições metabólicas e fatores sociais.

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Fonte: Reprodução

O cardiologista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Ricardo Stein, explica que “ninguém tem um infarto ou um AVC de forma repentina. Quase sempre existe um histórico silencioso de fatores acumulados, e isso significa que há tempo para agir”. Ele ressalta que a prevenção não deve se restringir a consultas esporádicas, mas envolver monitoramento contínuo e educação em saúde.

Caminhos para reduzir o impacto das doenças cardiovasculares

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as doenças cardiovasculares sejam responsáveis por cerca de 17,9 milhões de mortes por ano; o que representa uma em cada três mortes no mundo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 400 mil pessoas morrem anualmente por causas cardiovasculares, e grande parte desses óbitos é considerada evitável.

O estudo da Northwestern e da Yonsei reforça o papel estratégico das políticas de rastreamento em larga escala. A ampliação do acesso a exames básicos, como aferição de pressão, perfil lipídico e glicemia, combinada a campanhas educativas, pode reduzir substancialmente o número de internações e mortes prematuras.

Além disso, o relatório recomenda que países de média renda invistam em capacitação de equipes multiprofissionais e em sistemas digitais que permitam o acompanhamento remoto de pacientes com risco cardiovascular. No Brasil, iniciativas como o Programa Cuidar Melhor, do SUS, caminham nessa direção, mas ainda enfrentam desafios de infraestrutura e integração entre níveis de atenção.

A principal mensagem deixada pelos autores é clara: quase todos os eventos cardiovasculares são precedidos por sinais que poderiam ser detectados e tratados. A mudança de paradigma (do tratamento tardio para a prevenção ativa) é o caminho mais eficaz e sustentável para reduzir a carga global dessas doenças nas próximas décadas.

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