Aos 25 anos, ator sofre mal súbito durante apresentação teatral em São Paulo

Vitor Eduardo Dumont Ferreira

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A estreia do musical Aladdin, no Teatro Municipal de Osasco, terminou de forma trágica no último sábado (6). O ator Vitor Eduardo Dumont Ferreira, de apenas 25 anos, sofreu um mal súbito no palco durante os minutos finais da apresentação e não resistiu, mesmo após cerca de uma hora de tentativas de reanimação por profissionais presentes e pela equipe do SAMU.

O episódio gerou enorme comoção entre colegas e plateia, que inicialmente acreditaram que a queda do ator fazia parte de uma improvisação, algo comum em suas performances. A percepção mudou segundos depois, quando sua respiração se tornou audível e irregular pelo microfone.

Formado em Relações Públicas e com trajetória sólida no teatro musical, Vitor era conhecido pela energia cênica e pela dedicação ao palco. Sua morte repentina reacendeu o debate sobre a ocorrência de mal súbito em adultos jovens e aparentemente saudáveis, especialmente em ambientes de grande esforço físico ou emocional, como o teatro, a dança e a música.

O que é o mal súbito e por que ele pode atingir jovens

O cardiologista Rodrigo Noronha, entrevistado pela CNN Brasil, explica que “mal súbito” é um termo amplo usado para descrever um colapso inesperado, que pode envolver perda de consciência, queda brusca da pressão arterial ou interrupção do fluxo adequado de sangue ao cérebro.

Embora o termo não seja um diagnóstico, ele indica que algo grave está acontecendo no organismo, frequentemente de origem cardiovascular.

Segundo o especialista, uma das causas mais comuns é a parada cardíaca, quando o coração deixa de bombear sangue de maneira eficaz. Isso pode ocorrer por arritmias graves, como taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular, que impedem o coração de manter seu ritmo adequado. Em adultos jovens, essas arritmias podem se manifestar de forma abrupta, mesmo na ausência de sintomas prévios.

Outros fatores também podem desencadear um mal súbito, incluindo infarto agudo do miocárdio, alterações neurológicas como AVC e convulsões, queda repentina da pressão arterial ou desequilíbrios metabólicos.

Em situações de forte carga emocional, cansaço extremo, calor intenso e esforço físico elevado, condições comuns em produções teatrais, a vulnerabilidade a esse tipo de evento pode aumentar.

Sintomas que podem aparecer antes da perda de consciência

Apesar de ser um colapso súbito, alguns sinais podem surgir momentos antes do desmaio. Batimentos acelerados, sensação de fraqueza, tontura, falta de ar, dor no peito ou falhas momentâneas de fala podem anteceder uma arritmia ou queda importante da pressão arterial. No entanto, muitos casos acontecem sem aviso, o que torna a resposta rápida fundamental.

Para Noronha, identificar a ausência de respiração é o passo mais urgente. Encostar o rosto próximo ao nariz para sentir o ar ou observar se o tórax se movimenta permite saber se a vítima está respirando. Quando não há respiração, trata-se de uma emergência crítica, que exige início imediato das compressões torácicas.

A importância do atendimento rápido

Testemunhas relatam que, após o colapso de Vitor, bombeiros, profissionais de saúde presentes na plateia e integrantes da produção teatral tentaram reanimá-lo até a chegada do SAMU, que demorou cerca de 20 minutos para alcançar o local. Em casos de parada cardíaca, o tempo é determinante para a sobrevivência. As chances de reversão diminuem minuto a minuto quando a circulação não é mantida.

O uso do Desfibrilador Externo Automático (DEA), equipamento capaz de reconhecer arritmias fatais e aplicar um choque para restaurar o ritmo cardíaco, é um recurso que pode multiplicar as chances de sobrevivência.

Muitos teatros, auditórios e academias já dispõem do dispositivo, mas sua distribuição ainda não é universal. Em episódios como o de Vitor, o acesso a um DEA e a realização imediata de compressões torácicas podem representar a diferença entre vida e morte.

Mal súbito precoce: como prevenir e reduzir riscos

Embora nem sempre seja possível prever, algumas medidas ajudam a reduzir o risco de mal súbito em jovens adultos. Avaliação cardiológica periódica, atenção aos sinais do organismo, hidratação adequada, descanso regular e manejo do estresse são fatores importantes, especialmente para quem trabalha sob luz intensa, calor, esforço físico ou grande pressão emocional.

Profissionais das artes cênicas, bailarinos e músicos frequentemente enfrentam rotinas que combinam preparação física intensa com longas jornadas de ensaio. O acompanhamento médico adequado, assim como a presença de equipamentos de emergência em teatros e locais de apresentação, é fundamental para aumentar a segurança desse público.

Uma perda que mobilizou a comunidade artística

A morte de Vitor causou enorme impacto entre colegas e professores da escola de teatro Clayds Zwing, que destacou em nota que o jovem “partiu fazendo o que amava, no lugar onde sempre pertenceu: o palco”. Colegas de cena, como o ator Lucas Maíno, relataram que Vitor havia entrado “no auge da energia” naquele dia e que a queda inicial pareceu, por instantes, um recurso artístico.

O velório e o enterro foram realizados na última segunda-feira (8), com homenagens emocionadas de amigos, familiares e integrantes da comunidade artística paulista. O caso, além de despertar luto, reforça a necessidade de conscientização sobre emergências cardíacas e sobre a importância de estruturas adequadas de atendimento em eventos culturais.

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